sexta-feira, abril 18, 2025

Adolescendo

 

 

A câmera de segurança do elevador impede que a boca sem batom carmim

aproxime-se do espelho de molduras jacarandais num treino de beijo de língua.

 

Os sarrafos retangulares como riscos no teto sob o vidro,

exilam

a porta pan-to-gráfica cujos dentes divinais escrevem aparecer e sumir de sanfona,

tornando o calabouço longe e escuro,

para então dar lugar a uma enxurrada de palavras abertas;

num repetitivo encaixe de metal velho e rabugento



Memórias de uma criança

 

 

O ventilador de pás claro azul-turquesa gira sua hélice

não pro vôo, pra dormir.

Junto à rotação a translação, que da sua diagonal, pendurado ao teto,

cessa o motor quando a criança, deitada ao lado do adulto:

“Desliga, Ventilador!” - e um dedo rugoso no interruptor em comunicação com o triway do sistema

      afetivo

             des

                        acelera

 

 

 


 

Memórias de uma criança

 

 

O ventilador de pás claro azul-turquesa gira sua hélice

não para o vôo mas para dormir.

Junto à rotação a translação, que da sua diagonal, pendurado ao teto,

cessa o motor quando a criança, deitada ao lado do adulto:

“Pára, Ventilador!”

   - e um dedo rugoso no interruptor do triway do sistema

afetivo















Memórias de uma adolescente

 

 

A câmera de segurança do elevador evita que a boca sem batom carmim

aproxime-se do espelho de molduras jacarandais num treino de beijo de língua.

Os sarrafos retângulares como riscos no teto sob o vidro exilam

a porta pan-to-gráfica, cujos dentes divinais escrevem aparecer e sumir de sanfona,

tornando o calabouço longe e escuro, para então dar lugar a uma enxurrada de palavras abertas; num repetitivo encaixe de metal velho e barulhento

 

 

 


 

Memórias de uma criança

 

 

O ventilador de pás claro azul-turquesa gira sua hélice

não para o vôo, mas pra dormir.

Junto à rotação, também a translação, que da sua diagonal, pendurado ao teto,

cessa o motor quando a criança, deitada ao lado do adulto:

“Pára, Ventilador!” - e um dedo rugoso no interruptor em comunicação com o triway do sistema

      afetivo

             des

                       acelera



Memórias de uma criança

 

 

O ventilador de pás claro azul-turquesa gira sua hélice

não pro vôo, pra dormir.

Junto à rotação a translação, que da sua diagonal, pendurado ao teto,

cessa o motor quando a criança, deitada ao lado do adulto:

“Desliga, Ventilador!” - e um dedo rugoso no interruptor em comunicação com o triway do sistema

      afetivo

             des

                        acelera




 

quarta-feira, agosto 21, 2024

Labirintos

 




sexta-feira, março 04, 2022

pseudo-amor revelado

 Quebrou o

já quebrado.
Não encarou,
viu.
Ao pé do ouvido falou,
tremeu.
Por aqui fiquei,
desistiu.
No espelho dos peitos
carinho e vergonha,
aqui é oco, de membrana
delicada.
Nunca me apresentou na chegada.
Talvez pela falta de tato.
Vou seguir com
este amor que por não ser o que você
sonhou,
na real nunca nem existiu.
Mariana Fortes, Leticia Isnard e outras 16 pessoas

amor de carnaval

 

O seu olhar me sugava 

E brilhava em mim

O que esqueci de apagar


Até parece que estou a delirar

não aconteceu 

Mas esteve aqui e estive lá 


Gostei nem sei

Amarrou  os sapatos voltou beijou

disse: “ adorei … “


Na extravagância deste amor de carnaval

Fizemos papel de psicanalistas e palhaços

Diabos anjos paz na Terra e coisa e tal 


Na relutância, mais um beijo, disse:  “Adorei, 

mas não posso me entregar”

Representei, mas só queria acreditar

que tem paixão na humanidade amor aqui e lá 


Na matemática do Brasil ou do Japão  

Contando os pontos, não ganhou não 

Mar samba manhã cachoeira cão 

Jantar samba manhã  quero ser sua balangandã 


Era pra ser grande celebração, nem empatou, 

“ adorei, mas não …”

Cantei, mas só queria acreditar 

na paz na Terra Humanidade Amor aqui e lá


O seu olhar me sugava 

E brilhava em mim o que esqueci  de apagar

Até parece que estou a delirar

aconteceu esteve aqui e estive lá 


gostei bem sei

Amarrou  os sapatos, voltou, beijou e disse:

“ amei … “


Enfim então chorei.












Sent from my iPhone

sexta-feira, agosto 30, 2019

de um sorvete a casquinha
do seu gelo melancolia

mas que alegria
não ter você
me chamando de vadia

meu copinho amigo
meu corpinho tão querido

sobra música poesia
malucas saudades,
amigos e bohemia

memória

lembrar é amar
mas impossível
viver sem esquecer

decidir esquecer também é amar
mas impossível
viver sem lembrar

lembrar sem amar
é viver para esquecer
que amar
é lembrar de viver

xxx

Remembering is loving;
though impossible it is
living without forgetting.

Choose forgetting is also loving;
though impossible it is
living without remembering.

Remembering with no love
is living to forget;
that love is
remembering living.




Passei a usar brincos descasados
pois perdia os pares no meio da noite

















Pensei tanto em peitar
que esqueci a mamografia
escrevi com a mamária
ultra ssssssssssono  grafia








terça-feira, agosto 13, 2019

Uma Pessoa
Outra Pessoa
Somos Animais
Bossais?

My Man


Tenho consciência do seu feitiço 
e fujo dele. 
Mas você, 
bruxo, 
sabe dominar 
com as palavras ao pé do ouvido, 
sabe o efeito que suscita, 
atraindo-me para o suscenso 
do neologismo rosiano  
( mistura de suspense - incerteza, hesitação, ansiedade - com sucesso - triunfo, bom êxito ). 
Um pé na frente outro atrás, 
ou esta terceira margem do Rio. 

Não venho aqui por desejo só, 
venho inebriada na ilusão do conceito, 
na visão de um beijo que você não me dá, 
fazendo-me desprezar toda e qualquer 
sensação oferecida, 
por preferir este sentimento de alma apaixonada, 
fazendo-me gozar do segredo 

de ser sua. 

E me vejo chorando como mulher. 
Cadê o sol?

segunda-feira, julho 22, 2019

numa madrugada
de sinos que anunciam mortos
no pesadelo da criança

ela vem pra cama da mãe

numa estrada onde
nos sonhos a mãe dá carona a outros mortos

e então não dorme mais

uma decisão é tomada
o sol anuncia chegada
no peito uma facada

dor

pra onde ir a não ser longe daqui?

quinta-feira, julho 04, 2019

Somos errantes

poetas contemporâneos

que trabalham o neocortex

para evitar mimimi nhamnhamnham te quero pra sempre de amor

brasileiro tá mais efêmero que nunca


terça-feira, julho 02, 2019

Eu, estrangeira de mim

Quem somos nós, brasileiros?
Ou melhor: Quem sou eu?
Somos estupefatos e reprimidos.
Índios ( dizimados e pouco conhecidos por nós mesmos ) nativos de um país com uma flora e uma fauna exuberantes; africanos  ( marcados por uma sociedade escravocrata ) - dotados musicalmente de uma forma milagrosa de encarar a vida, compreendendo o sagrado também em bater os pés acordando os espíritos ancestrais; europeus - nos hábitos, nas técnicas, nas origens de um país colonizado; americanos - nas projeções; sincréticos, miscigenados nos mitos e ritos... Nos conhecemos?
E eu? Sou aquela que cresceu 4 meses por ano semi-nua, sem sapatos, brincando de taco na terra batida, coberta do sal da lagoa escaldante, capaz de pescar uma tainha com as mãos, sambando no pé, muito mais que a loira de maria chiquinha, tênis nike e blusa do mickey, comendo coxinha de galinha na tijuca.
Certa vez fui a uma mãe de santo : "você vê” - ela me falou. Recorto o mundo em cenas e sugiro narrativas na poesia do ordinário. Quem vive conta. Quem vê pinta. A realidade se transforma no meu trabalho. Confio no que vejo, mesmo que seja ilusão ou drama. O que destacar? O que não é comum neste excesso? Qual mistério a ser desvendado? 
O que importa realmente aqui é ser feliz na urgência. A alegria surge do desespero em transformar o descaso social em algo vital.
É um dia a dia pesado, violento e também belo e frágil, nesta natureza abundante.

quinta-feira, junho 13, 2019

desilusão

Às voluntárias bandeirolas senhoras de junho
esforçadas em andar 1 quarteirão
passo
nem pensam que os voluntários eram escravos forçados a lutar
pela pátria em troca de alforria.
Uma luz faz olhar pra cima
e ver que a árvore não continua mais.

a mão dele no rosto dela
o rosto dele na mão dela
a mão dela na mão dele
a mão dele na mão dela
ele com ela com ele com ela com ele com ela com ele com ela

eu, o culote e o computador
aprendemos que o amor
apesar de pés enroscados no de alguém que ainda acredita
não é a dois

este amor aí é pacto
de interesse
o outro faz o universo girar

bons os ingênuos tempos em que se buscava um coração para bater junto

hoje é só céu, vida e morte e ar
nem mais vaidade

e lá vai a idade.

sexta-feira, maio 31, 2019

vestígio de mim

Como quem procura pistas
pegadas
nas células
nos poros
dos dedos
nas retinas
dos olhos
nos neurônios
que faíscam
algo que explique
esta trajetória

Passam impressões,
biometricamente desfazendo nós,
entre órgão de músculo involuntário irracional,
outro que diz se estou passando mal
a boca
e o canal que sustenta todo sedimento de memória

aguardo o sinal

incenso telepatia minuto a minuto e desperdiço
a intelectualidade adquirida
ex cola da vida
não me disse a resposta
e ainda me deixou soltar as rédeas

lupa
chapéu de Sherlock Holmes
e nada é mais elementar

outro dia

sigo a busca
imagens, escritos, um recado talvez
que me faça finalmente compreender o porquê
de ser vivo de vez


terça-feira, maio 28, 2019

tudo

Era uma vez uma mulher ambiciosa
que se tornou mãe

esquizofrenesi


Me deixou num total esquizo frenesi.
Um frenesi esquisito

ou

(mais bela)
freneticamente exquisite

uma parte ainda eu
outra parte eterno sonho meu

uma parte eu
outra parte se fudeu



sexta-feira, março 15, 2019

Vermelho

As caras dos idosos militares
seus corpos e andares exibicionistas
ss senhoras e seus shortinhos
e os sorrisos nos rostos...

O que é necessário para satisfazer uma vida?

Dominar as massas com uma moral rígida?
Tônicos músculos involuntários?
Viver à mercê de uma tevê que compartilha receitas e trivialidades?

Tô de vermelho.
Aqui os vermelhos estão nas flores, não nas pessoas.
Seja sexy, vulgar, amoroso,
Devassa ou Coca-Cola,
Flamengo ou America,
não vejo ninguém de vermelho nesta multidão ariana.

São namorados no estilo anos 50 em pleno 2018.
De vermelho só eu.
Woman in Red.
Saia, mas não esvoaçante.
Penso sim em sair e nunca mais entrar.

Até onde vai uma ideologia política?
Até onde vai o culto ao corpo?

Problemas de coluna só cessam quando se cuida da mente e do espírito.

O gosto por livros da minha filha me apazigua.
A vontade de viver dela, o jeito que ela me olha, isto me satisfaz.

Onde coloco o amor Ágape, co-sanguíneo, por aquela tia e sua odiosa família?
Na casa deles tinha um casco de tartaruga gigante.
O meu tio era marinheiro? Ele matou a tartaruga?Acho que ele tinha uma arma...

Neste bonde chamado Desejo, os estivadores são os machos-alfa.
Você e o personagem que você sonhava que eu fosse
ou o que melhor se encaixava naquela fotografia.
O homem alto moreno, a mulher loira baixinha, e atrás o mar.
Ouro de mina.
Que força descomunal se livrar deste fardo sem perversão.

Acusações de psicopatia de um psicoholic psicoadicto
"Você confunde gozo com afeto" - ele disse -
aquele psicoanalítico, psicomacho, psicovirtual, psicomachine
" Você é poeta " -
me esporrou poesia drummoniana
me ofereceu um baixo eletrônico
...
e me cobrou aluguel.

Um homem diz que ser de esquerda é ser solidário.
Se a mulher tem dinheiro e pai de direita,
mesmo que esteja solitária na luta,
não precisa de um abraço.
Abraço, carinho, jantar e conversa de mulher rica com pai de direita,
para o machoesquerdopata,
é assédio.
Porque independente do nível de compaixão e humanidade que se tenha,
para um machista,
mulher quando conversa com homem, quer transar,
porque mulher,
para o machista,
não pensa.

Aí percebemos o quanto importa um feminismo,
um afetuoso carinho feminino gerador de pensamentos,
um afetuoso caminho feminino propulsor de momentos.

a lógica do mundo tá tão torta,
que afeto é crime
e dinheiro é ordem.

e sempre foi assim.
e assim nem sempre será.


terça-feira, setembro 04, 2018

quando cai a ficha da discreta manipulação afetiva

E então a liberdade de pensar o que quer que venha à mente
(como se deve ser ao nascer)
e expressar sem medo.

Um homem bonito
e o sonho da menina formada em moldes encantados,
de alienação de auto-estima,
que se alimenta apenas se dá a mão ( o braço, o pé...)
a um homem
bonito

Um mulher cuja beleza serviria apenas para seduzir e passar a servir
um homem
bonito
assim se educou um inconsciente
feminino.
assim se reprimiu uma potência
bonita.

A mulher pensa, fala,
trabalha e ganha por isto,
A mulher é e ele indaga:
Você sabe fazer bolo? Cadê meu almoço? Por que a louça está suja? Com quem, onde você estava?
Ele afirma: minha mãe é perfeita, como quem diz, se você for como ela e eu quiser casar, você aceita?

E então, a liberdade de ser, sem precisar se agredir
Ver beleza no próprio pensar, escrever, falar, sentir.
Dar a mão à criança,
abraçar a menina,
e fazê-la acreditar que a beleza é intrinsecamente dela,
A beleza daquela mulher nasceu e cresceu com ela.

Os outros olham
e ela quer mostrar.
Os outros olham
e ele quer aparecer.
Forjam tanta felicidade,
que acabam por acreditar
naquele viver.

E então, ela indaga:
O que é ser bonito?
O que é ser ?
Onde se escolhe ver beleza? E o que é amar ?

E então, ela capta a imagem:
Um homem bonito que só sabe ser só menino só.
Um homem bonito que só encara só menina só.
Um homem feio que só namora menina bonita, frágil, que sonha.
E, se a fragilidade dela aparece,
ou a mulher se desvela,
pronto, comprovada a teoria:
ela não é a boneca de chumbo ou sua mãe e não será ele o escolhido de suposta compaixão.
Ele é desleal consigo, não sabe amar quem o ama, desconfia dela, se entrega à vaidade como meta.
Foge.
A testa.
Volta.
A culpa.
Vai.
Ele diz:
ela é maluca.

Ela intui:
Amor que deixa morrer.
Amor que se deixa morrer.
Amor que não considera, que é vivido porque leva a algum lugar.
Amor com finalidade.
Amor que posa e suga, que dorme sem abraço, beija e transa na ilusão...
Amor que desconhece o amor
não é amor.

Amor que menospreza o amor,
que joga fora,
despeja quando não mais deseja,
tratando ser vivo como inanimado...
não é amor.

E então, ela lembra, finalmente, o que é a liberdade de amar

a liberdade de ser, sentir, pensar,

sem que amar e existir ( por si só )

seja um crime,
um penar.







terça-feira, junho 19, 2018

profundo e puro

Um vazio que gira,
um buraco lá em cima
de calor que não traz passado do futuro
na onda eletromagnética

não força a barra, não tem clima
esquece casa, tudo
Tem gente querendo colo ali na esquina.
Ser feliz tem ética?

Quando a menina
às claras perde a fé no "eu juro"
sem ver estrelas no escuro, galáctica

sejamos sós, nadando
homens achando que o que vale é o pau deles, duro
mulheres pensando que o propósito é a labuta delas, perjúrio




sábado, junho 16, 2018

separação


BEL - Projeto que não deu certo. 
Ainda existe um lugar onde se queira dormir, abraçar 
alguém? 
Afeta nossa capacidade de amar.
e dizemos amém.
Afeta nossa necessidade de amar.
e não dizemos mais
amém.
BERNARDO - Os travesseiros trincheiras 
nos defendem do descanso
Quem quer algo além? 
A poeira fede lá fora 
e a gente aqui com medo? 
Não cabe.
BEL - Cabe. 
Almas dominadas pela higienização das relações! 
Te falta tempo? Pra mim sobra! 
Sobra tempo 
Time is no money e ainda quero mais! 
Não estou desempregada , escolho afeto, desarraigada.
BERNARDO - Na casa da minha mãe tenho afeto.
BEL - Que sorte, achei que era só teto.
BERNARDO - Se cuida!
BEL - Odeio isto, me atinge, me rói, me deixa muda.
BERNARDO - É sincero.
BEL - Mas não o que espero.
BERNARDO - Não sou eu quem vai salvar sua primeira infância perdida.
BEL - Desespero-me com sua ida. Cessar sonhar.
BERNARDO - Desta preocupação consegui me livrar. Seu peso. Quanto penar.
BEL -  Egoísta. 
BERNARDO - Privilégio ser. 
Não procuro nos outros solução 
tenho poder.
Você manipula
mas não a mim.
BEL - Passar bem. Seu nome é repressão.
Vai lá, circula, faz pirlimpimpim.
BERNARDO - Seu nome é agressão.
Fora de mim!
BEL - Você me nega a mão, 
e sou eu a agressão? 
Você se fecha
e sou eu sua apreensão?
Os olhos sensíveis
enxergam mera ambição.
Pode sair daqui enfim 
desta peça 
da minha vida.
de mim.
BERNARDO - Volto.
BEL -  Alguns se transformam, outros passam atávicos. 
Agradeço por me acordar do sonho alienado. 
Considerava possível filhos de amor, 
mas isto pra você é dor.
BERNARDO - puro torpor
BEL - Não morrerei às traças. 
Não serei comida pelos corvos 
num mini apartamento em Paris. 
O despertador não vai tocar às 4 da manhã por 1 semana 
A vizinha cansada não irá desconfiar do meu sono infinito 
vindo do respiradouro do prédio em Copacabana.
BERNARDO - Não morro nunca. Sou ficção.
BEL - Desta água não mais beberei, irmão.

perda de uma parte


Perder uma parte do corpo
é sério
desenvolver vida.
E você? 
Partilhará 
desta ida?
desenvolvida em mim
como húmus?
Como mulher mistério
ou me manterá 
em pensamento estéril?
éramos nus
e agora partida
membro enfim
torto
roto
sim
mais forte do que era
ó vida!

quinta-feira, março 29, 2018

Amor al

o tempo da alteridade
Tempo mais lento
Como se a impulsividade ou ansiedade 
regidas pela necessidade capitalista de sair vencedor 
em combates relacionais austeros 
tenham ofuscado uma visão mais ampla

Se eu tivesse tido a paciência 
Se eu me conhecesse melhor
Se eu pudesse me ver com os olhos que me vejo hoje naquele momento de outrora

Mas assim é a vida
Ali então não compreendi o quanto deveria ter sido fiel à minha dor. 
O quanto deveria ter me entregue ao pacato tédio ou ao não saber. 
O quanto deveria ter me recolhido em depressão. 
Mas lutei contra. 
Me mediquei, reagi fugindo.

Você me testava.
Não passei no teste.
Você me reprovou.

Se eu soubesse que era um teste teria agido diferente? 

Esta é a descoberta e agora a união de todas performances que fiz na vida.
Não mais trairei minha dor.
Senti-la-ei.
Foram tantas as vezes que o amor se apresentou.

Sim
Um tempo mais lento
De um comodismo talvez
De uma demora a perceber que existem outras opções, para desaterrar e seguir adiante.

De que me serve esta idéia fixa em você ? 
A desculpa que eu precisava para justificar minha melancolia, minha necessidade de solidão ? 

Por que com você logo com você fui feliz? 
Por que me subjugar é ser feliz? 
Fui feliz?  
Qual caráter revolucionário tem aí para me mover com tanta paixão ? 

Falhei.Falhei em ver amor em continuidade 
Em criar raiz nos pés de um pássaro.
Por me saber infinitamente elástica não tenho medo de fixar-me.

Se um dia em seus vôos passares por aqui de novo 
- talvez eu esteja testando-me para este concurso sem vagas - 
eu, aquela falida candidata, 
estou aqui ainda em treinamento. 

Não queria ter novamente a sensação de viver numa prisão moral.
Se minhas lágrimas pontuais e frequentes há exatos 800 dias tivessem moral, não estaria aqui escrevendo.

Este amor que me atordoa é imoral.
Amoral
Amor all
Mora lá aqui.
Dentro de mim.
Estrangeira sou 
dentro de mim.
Por não ter compreensão.

Meu primeiro namorado morreu antes de...

Tá ai o registro 
encontrado
impresso
entre tantos

Tá aí a revelação 
da primeira alegria
entre prantos

Tá aí o chiste
não comentado
Tá aí o lance de dados
A promessa de que não mais tropeço 
nesta via 
que tramo

Tá aí o sim.
Pra você e pro mundo que abro.
Àqueles que se renderam 
sem nunca terem acordado
prezo
É humano.

Tá aí aquele
retirado
sem regresso
mesmo com o passar dos anos

Tá aí a vida 
fazendo seu bordado  
então peço 
através de outros planos
que escute agora
todas vezes que rezo
Eu te Amo.

Paz, Pablo ( 1975 - 2017 )
Saúde e Amor pra quem você deixa.
Te agradeço imensamente por me ensinar.