Thursday, May 28, 2015

em resposta à pergunta que ela me fez

Não, não quero morrer.
Vou comer direitinho
vou cuidar de mim e da minha casa.
vou curtir os amigos e aproveitar a vida com o melhor que ela tem pra oferecer.

Não vou mais viver para os outros.
Não vou mais basear minha felicidade na presença de outra pessoa perto de mim.

é o início da minha auto-suficiência.

e eu queria muito acreditar nisto que acabei de escrever.
imagino que já seja o começo.

Felicidade à venda na Praça XV

Engraçada a nossa idéia de felicidade.
Quando a gente sente a gente se agarra a ela de um jeito que parece que a gente nunca mais vai soltar.
Aí a felicidade vai embora
Cede lugar a umas coisas estranhas
Uns desprezos
Uns olhares cruzados
Uns tais comodismos
E você fica ali colocando a mão no fundo da memória do peito
cavando a tal felicidade

Aquele instante que ficou marcado
Aquele dia em que você jurou que nada estava acontecendo
ou que você estava preparada para dizer para ele que não dava não,
que não tinha coragem de continuar com aquilo
e mostrar quem era de verdade na sua insegurança
e ele chegou com um molho de flores amarelas,
porque ele lembrou que vocês estavam há 2 meses juntos.

e aí vocês brincaram de tirar a primeira foto
ainda com cara de sapecas
escondidos atrás das flores amarelas

como se nunca mais fossem tirar fotos
como se tudo fosse ser só aquele instante
de muita felicidade
que só de lembrar dá

que só de lembrar
faz a gente não entender porque que de repente não é mais felicidade
e porque que de repente o outro não quer mais ser feliz contigo

ou na canoinha
com arco-iris de lado a lado no mar da Bahia
e a criança feliz
e a gente no balanço
e aquele
"meu amor" vindo do fundo da canoa tão sincero,
tão feliz...

Ou o bobó de camarão que a gente arriscou fazer juntos
quando ainda valia a pena correr riscos juntos
e conversar entre si
e conversar com os amigos
sem julgamento
só na confiança
na cumplicidade

ou quando a gente se agarrou a tarde
e outra tarde
e outra noite
na cama vizinha ao escritório,
no chão da cozinha
na piscina

ou quando você me ligou de tarde dizendo
" de repente me perguntei cadê ela e liguei pra saber de você, é que bateu uma saudade..."

e quando você me falou que estava pensando na música do Velho Chico, do ciúme
e eu nem sabia que isto passava por você de tanta idolatria que eu tinha

e quando a gente encheu a casa de gente
e agimos como um time,
enquanto você apagava as luzes e botava o Luiz Melodia pra tocar
e eu pegava os copos e as bebidas geladas

e as nossas piruetas e trocas de mensagens

e palavras cruzadas e risadas

e o congelamento e a escavação
e a escavação
e o tudo derreteu

instantes que não se resgatam
memórias que a gente quer apagar
com terra e cimento em cima

 e não se sabe o que fazer com isto em vida
como os sapatos dos mortos

onde foram parar

se esvaíram

e por que?
ou porque não se esvaíram até agora se ele já se foi?

e se nada foi
e se nada disto aconteceu

Ah, mas a felicidade,
ah, como foi feliz ali
e ali
e também ali,

agarra aquele momento,
segura,
não deixa escapar,

deixa doer agora,
chora

e segue
eles ainda existem sim
eles existem

ele vai ligar
ele vai dizer que pensa nisto também

mas não
naturezas diferentes
memórias seletivas opostas

e nada mais

e aí a vontade de quebrar o vidro

vontade de sangrar
vontade mesmo de morrer
e odiar

eram instantes congelados de felicidade
que justificavam a vida até então

e aí você está apenas atravessando uma rua em botafogo
e ele não está nem mais morando contigo

nem mais na mesma cidade
nem se sabe mais onde ele está

nem mais pensa em você
e se isto acontece,
se refere a você como passado de anos atrás
mas só passou 1 semana

e a tal felicidade virou gelo congelado no tempo

as fotografias podem até ser vendidas na praça XV

ou serem guardadas como memória da criança que vai crescer um dia

E ela o que será que sente?

saudade ou raiva?
desprezo ou alívio?
amor ou confusão?

e o arco-íris a gente viu mesmo?

a criança não fala nada
ninguém entende nada

foi tudo um sonho mesmo...

a gente era uma família
e de repente é nunca mais se ver...

a gente dividia as coisas
e de repente

"o que me torna vivo é ser livre"

livre?
livre de que?

esqueceu?
regrediu?

não é possível ser livre tendo muito afeto?

não é possível ser livre tendo lar,casa,família?

que idéia retrógrada é esta?

será que você ficou satisfeito com o que conquistou e se foi?

será que é vil assim?

será que dentro desta humanidade toda tem tanta falta de afeto,
tanto,tanto egoísmo,tanta tanta couraça...

tanto teatro,tanto nada,tanto não foi nada,
tanto eu não fui nada,
tanto você não sabe de nada,
tanto você não tem condições de me compreender
porque você é diferente de mim
na coisa mais mesquinha

tanto você não me conhece,
tanto você não sabe o que me aconteceu,

que...

eu fui o que exatamente?

como você subestima o ser humano,
que coisa impressionante.

e quer que eu acredite que era amor.

nesta eu não caio mais.

que pena

eu queria tentar amizade
confesso que tenho dificuldade

deste jeito que acabou, eu tenho sim, dificuldade.


tá repetindo música do Los Hermanos, vou seguir meu caminho... lalalala...

Nem singular consegue ser.

tem vergonha de tudo
mente
se engana

e faz pactos de sedução que sabotam seu próprio talento,
seu próprio possível êxito.
em vez de concentrar na verticalidade de uma relação com o absoluto

quem sou eu pra dizer estas coisas?
realmente não sou ninguém.

sou só alguém simples que tinha muito medo de você
mas que caiu na sua armadilha

devia ter ouvido meu instinto

"seu medo me assusta"
você me disse
pois
eu devia ter continuado com medo e te assustado para bem longe de mim

Assim não tinha vivido com este homem que não conheço
com este homem que fez questão de não me conhecer
que fez questão que eu não o conhecesse
que tem medo de qualquer pessoa que descubra quem ele é de verdade

porque tem vergonha de ser quem é.
porque tem o rabo preso
porque não sabe falar de quem ama de verdade
porque morre de medo de amar e ser amado
não admite as dores que passou
não quer falar
tocar
não quer escavação de afeto
quer deixar de lado mesmo

e trabalhar na obsessão
e brilhar
nestas de auto-controle

Não é mais o seu tamanho
É o seu medo que me assusta.
Tô assustadíssima com o medo que você tem.

E agora você não precisa mais mentir para mim.
Pode ser quem você quiser.

Eu desconfio já de alguém que não é a invencionice que o meu coração criou.

Pode ficar tranquilo.
Eu,
assim como alguns na sua trajetória,
já sei quem você é.

Neste embate de forças que é a vida,
você me fez outra pessoa.
Você transformou meu coração em pedra,
minha buceta em cristal imaculado,
meu peito em asfalto,
minha garganta em aço.

Minha boca curva para baixo
Meu olho é de índio
Respiro como quem bufa
E sorrio como quem grita.

Você nunca mereceu um passarinho que nasceu naquele ninho.

A beleza da vida não está mais em você.
A beleza da vida não está mais em você.
A beleza da vida não está mais em você.