Friday, May 29, 2015

no news good news

se ao menos os louros
se ao menos as notícias boas
se ao menos você não se enganasse tanto
se ao menos não fosse tão pouco sincero
se ao menos compartilhasse mais
se ao menos despedisse
se ao menos se abrisse um pouco em consideração
se ao menos fosse menos deselegante no desfecho
se ao menos tivesse consideração

eu não pensaria toda esta desapontaria

propôs o que?
pra quem?
se comigo nem falava mais...

analisa o que
de quem

se quem te cuida é descartado com descuido

muito fácil sair por aí
se dizendo vencedor
ou até mesmo
se fazendo de quem tentou

quero ver rasgar o desejo real
quero ver permanecer até o fim do diálogo

mas pra quem nunca se importou
jamais importará

alegria
tristeza
tanto faz
o importante mesmo é estar só
e se enganar
o melhor mesmo é falar consigo mesmo e supor o outro
o melhor mesmo é ué,pra que o outro se tudo que eu penso do outro já é verdade pra mim?

feche-se

Thursday, May 28, 2015

em resposta à pergunta que ela me fez

Não, não quero morrer.
Vou comer direitinho
vou cuidar de mim e da minha casa.
vou curtir os amigos e aproveitar a vida com o melhor que ela tem pra oferecer.

Não vou mais viver para os outros.
Não vou mais basear minha felicidade na presença de outra pessoa perto de mim.

é o início da minha auto-suficiência.

e eu queria muito acreditar nisto que acabei de escrever.
imagino que já seja o começo.

Felicidade à venda na Praça XV

Engraçada a nossa idéia de felicidade.
Quando a gente sente a gente se agarra a ela de um jeito que parece que a gente nunca mais vai soltar.
Aí a felicidade vai embora
Cede lugar a umas coisas estranhas
Uns desprezos
Uns olhares cruzados
Uns tais comodismos
E você fica ali colocando a mão no fundo da memória do peito
cavando a tal felicidade

Aquele instante que ficou marcado
Aquele dia em que você jurou que nada estava acontecendo
ou que você estava preparada para dizer para ele que não dava não,
que não tinha coragem de continuar com aquilo
e mostrar quem era de verdade na sua insegurança
e ele chegou com um molho de flores amarelas,
porque ele lembrou que vocês estavam há 2 meses juntos.

e aí vocês brincaram de tirar a primeira foto
ainda com cara de sapecas
escondidos atrás das flores amarelas

como se nunca mais fossem tirar fotos
como se tudo fosse ser só aquele instante
de muita felicidade
que só de lembrar dá

que só de lembrar
faz a gente não entender porque que de repente não é mais felicidade
e porque que de repente o outro não quer mais ser feliz contigo

ou na canoinha
com arco-iris de lado a lado no mar da Bahia
e a criança feliz
e a gente no balanço
e aquele
"meu amor" vindo do fundo da canoa tão sincero,
tão feliz...

Ou o bobó de camarão que a gente arriscou fazer juntos
quando ainda valia a pena correr riscos juntos
e conversar entre si
e conversar com os amigos
sem julgamento
só na confiança
na cumplicidade

ou quando a gente se agarrou a tarde
e outra tarde
e outra noite
na cama vizinha ao escritório,
no chão da cozinha
na piscina

ou quando você me ligou de tarde dizendo
" de repente me perguntei cadê ela e liguei pra saber de você, é que bateu uma saudade..."

e quando você me falou que estava pensando na música do Velho Chico, do ciúme
e eu nem sabia que isto passava por você de tanta idolatria que eu tinha

e quando a gente encheu a casa de gente
e agimos como um time,
enquanto você apagava as luzes e botava o Luiz Melodia pra tocar
e eu pegava os copos e as bebidas geladas

e as nossas piruetas e trocas de mensagens

e palavras cruzadas e risadas

e o congelamento e a escavação
e a escavação
e o tudo derreteu

instantes que não se resgatam
memórias que a gente quer apagar
com terra e cimento em cima

 e não se sabe o que fazer com isto em vida
como os sapatos dos mortos

onde foram parar

se esvaíram

e por que?
ou porque não se esvaíram até agora se ele já se foi?

e se nada foi
e se nada disto aconteceu

Ah, mas a felicidade,
ah, como foi feliz ali
e ali
e também ali,

agarra aquele momento,
segura,
não deixa escapar,

deixa doer agora,
chora

e segue
eles ainda existem sim
eles existem

ele vai ligar
ele vai dizer que pensa nisto também

mas não
naturezas diferentes
memórias seletivas opostas

e nada mais

e aí a vontade de quebrar o vidro

vontade de sangrar
vontade mesmo de morrer
e odiar

eram instantes congelados de felicidade
que justificavam a vida até então

e aí você está apenas atravessando uma rua em botafogo
e ele não está nem mais morando contigo

nem mais na mesma cidade
nem se sabe mais onde ele está

nem mais pensa em você
e se isto acontece,
se refere a você como passado de anos atrás
mas só passou 1 semana

e a tal felicidade virou gelo congelado no tempo

as fotografias podem até ser vendidas na praça XV

ou serem guardadas como memória da criança que vai crescer um dia

E ela o que será que sente?

saudade ou raiva?
desprezo ou alívio?
amor ou confusão?

e o arco-íris a gente viu mesmo?

a criança não fala nada
ninguém entende nada

foi tudo um sonho mesmo...

a gente era uma família
e de repente é nunca mais se ver...

a gente dividia as coisas
e de repente

"o que me torna vivo é ser livre"

livre?
livre de que?

esqueceu?
regrediu?

não é possível ser livre tendo muito afeto?

não é possível ser livre tendo lar,casa,família?

que idéia retrógrada é esta?

será que você ficou satisfeito com o que conquistou e se foi?

será que é vil assim?

será que dentro desta humanidade toda tem tanta falta de afeto,
tanto,tanto egoísmo,tanta tanta couraça...

tanto teatro,tanto nada,tanto não foi nada,
tanto eu não fui nada,
tanto você não sabe de nada,
tanto você não tem condições de me compreender
porque você é diferente de mim
na coisa mais mesquinha

tanto você não me conhece,
tanto você não sabe o que me aconteceu,

que...

eu fui o que exatamente?

como você subestima o ser humano,
que coisa impressionante.

e quer que eu acredite que era amor.

nesta eu não caio mais.

que pena

eu queria tentar amizade
confesso que tenho dificuldade

deste jeito que acabou, eu tenho sim, dificuldade.


tá repetindo música do Los Hermanos, vou seguir meu caminho... lalalala...

Nem singular consegue ser.

tem vergonha de tudo
mente
se engana

e faz pactos de sedução que sabotam seu próprio talento,
seu próprio possível êxito.
em vez de concentrar na verticalidade de uma relação com o absoluto

quem sou eu pra dizer estas coisas?
realmente não sou ninguém.

sou só alguém simples que tinha muito medo de você
mas que caiu na sua armadilha

devia ter ouvido meu instinto

"seu medo me assusta"
você me disse
pois
eu devia ter continuado com medo e te assustado para bem longe de mim

Assim não tinha vivido com este homem que não conheço
com este homem que fez questão de não me conhecer
que fez questão que eu não o conhecesse
que tem medo de qualquer pessoa que descubra quem ele é de verdade

porque tem vergonha de ser quem é.
porque tem o rabo preso
porque não sabe falar de quem ama de verdade
porque morre de medo de amar e ser amado
não admite as dores que passou
não quer falar
tocar
não quer escavação de afeto
quer deixar de lado mesmo

e trabalhar na obsessão
e brilhar
nestas de auto-controle

Não é mais o seu tamanho
É o seu medo que me assusta.
Tô assustadíssima com o medo que você tem.

E agora você não precisa mais mentir para mim.
Pode ser quem você quiser.

Eu desconfio já de alguém que não é a invencionice que o meu coração criou.

Pode ficar tranquilo.
Eu,
assim como alguns na sua trajetória,
já sei quem você é.

Neste embate de forças que é a vida,
você me fez outra pessoa.
Você transformou meu coração em pedra,
minha buceta em cristal imaculado,
meu peito em asfalto,
minha garganta em aço.

Minha boca curva para baixo
Meu olho é de índio
Respiro como quem bufa
E sorrio como quem grita.

Você nunca mereceu um passarinho que nasceu naquele ninho.

A beleza da vida não está mais em você.
A beleza da vida não está mais em você.
A beleza da vida não está mais em você.

Tuesday, May 26, 2015

Ter coragem de amar os monstros

Não acredito em quem não queira amar
Não acredito em qualquer desculpa que seja desculpa para não amar

querer estar só é muito bom
sentir-se bem só é muito bom
ouvir-se
fazer o que quer
viajar sozinho
acordar a hora que quer
poder abrir a janela
deixar a luz entrar
entoar um canto
tudo isto é muito bom

mas na hora que o "camareiro hábil"
começa a querer que nada mude
mas na hora que isto começa a ser cerca
começa a ser não querer ninguém cerca
quando o outro não pode mais interferir
porque o outro é abstrato demais
porque relacionar-se dá trabalho demais
e porque trabalho exaure e acaba
e depois começa outro

que negócio é este de trabalhar com relacionamentos?
que jogo é este que acaba quando acaba?
que brincadeira sem graça é esta que afeta sem ser afetado?

uma coisa é vida
outra coisa é teatro
e no caso uma coisa é uma coisa
e outra coisa é outra coisa

e todos afetos em volta em vez de um afeto só?
e todas as subjetividades infinitas que um ser pode ter ou ser?

e se eu resolver viver como uma abelha por uma semana e
entrar nesta cosmovisão e ir

tudo bem
tudo
tudo bem

desde que na volta exista um cafuné

ah,o poder de um cafuné

como é bom receber e dar cafuné.

Eu sou dos sentidos
Ocidental
Carioca
Urbana

Eu busco comida boa
Sexo bom
Humor
boa companhia
dança e música

eu busco troca
diálogo

se toda troca termina em "vai se fuder " ou " não te suporto mais"
ou
se uma relação vira " só dormir "
ou
se o telefone toca toda vez que te toco
ou
se o telefone toca toda vez que a gente toca no ponto
ou
se a comida esfria toda vez que é preparada
ou
se existem dois lugares à mesa,mas sempre se come só
ou
se já não importa
ou
se nem nunca foi
ou
se pra que foi então?
ou
pra que fomos tão longe?
ou
tem finalidade?
ou
não era mesmo pra ser desde o início?

Fingir
Fingir
Fingir

Não ter coragem de assumir
e ser assim

mas agora que eu conheço seus segredos,
nem adianta treinar o jogo 24 horas por dia,
você troca de parceira de partida em partida
e chama isto de amor próprio

nada para dizer

sim,filha,eu sei meditar
fico só pensando na minha respiração
no ar entrando e saindo do meu corpo
entrando e saindo
e só.

Estamos vivas,filha.
Tá tudo bem
e cheio de amor sincero em volta de nós.

Tem gente,filha,que tem dificuldade em assumir a responsabilidade por machucar alguém.
É uma necessidade muito grande de se sentir um ser de bem.
Mas, às vezes, filha,seres de bem, tem requintes de crueldade que nem eles mesmos dominam,
é de uma energia complexa sustentada pela nossa própria mediocridade no mundo.

Desacredito também.
Mas insistirei na propagação de idéias corajosas
que incluam totalmente a idéia de amor.

E o amor tem monstros,medos,tristezas
e requer muita coragem.

Saturday, May 23, 2015

Serenidade na Tristeza

serenidade
relação com o divino
estou aqui
viva
estou em paz

já não tenho medos
nem sabia que estava tão cansada
mas renovada percebo
que existem ainda
alguns prazeres a serem vividos

sem a presença dos seus pés tocando os meus embaixo do edredon.

viver sem ceder aos sentidos
pode até ser por aí a transcendência
porque a lembrança do seu cheiro
do seu corpo
só me faz mais fraca

meu peito contra o seu
o peso de um sobre o outro
a leveza de um toque no chão
a espiritualidade deste encontro
nossos beijos
sua barba roçando na minha nuca
um cafuné
um pequeno empurrão

tudo começou tão bem até eu ceder
se isto não é amor
então o que é?

quanta tristeza,meu Deus.

e o apagar

Hoje tudo está fechado
as cortinas sem abrir
luz do sol só pela fresta
sem sentir
fechado para balanço
fechado para o sexo

abertura só interna
de brilho
de ação criativa
de potência

hoje tudo está em pé
falando
cantando

senão tá dirigindo
chorando
batendo
raspando
com o retrovisor fechado

sem olhar para trás
sem rasgar os papéis
sem quebrar os vidros,
porque quem limpa é quem quebra

poder destrutivo infantil pode até ser sinal de criatividade
aqui tempos todos do mundo já não parecem mas são
destruir para botar a criatividade em jogo

jogar
estar em suspensão
compreender e exercer o meu ofício
O que eu tenho
O que fica?
O meu ofício

Então aguenta a dor e vamos

Nosso lar desmoronou
o sabiá morreu no ninho
o violão virou responsabilidade
voltou pro papelão
e uma cruel desilusão foi o que ficou pra machucar meu coração

tá fazendo 2 anos e meio,amor,
que o nosso lar desmoronou
ficoooou

este seu jeito de você em mim
esta dureza com a vida

ficou em mim a ciência
ficou em mim esta aversão ao afeto amoroso
qualquer que seja

ficou em mim querer agora só amigos
ficou em mim
um coração fechado
ficou em mim
um aluguel estragado
um cachorro que a gente não adotou na praia

a segunda dor de uma filha

uma família que eu perdi
cadeiras na varanda do meu passado
que já não conversarão
e o meu inglês que eu não tô nem aí
perto de Jundiaí

ficou um terreno perto de uma represa
uma resignação

um peito para se botar
e esta eterna vontade de que um dia você pudesse me amar
do mesmo jeito que eu te amo

se você deixasse,
cuidaria de você como enfermeira chefe,
como mulher,
como pólen do seu amor,
como carneirinho,
como cavalinha,
como canjica,
como chapéu de sol,
como água quente,
como óleo,
como incenso,
como voz,
como cobertor,meia e casaco...
...e estes olhos de luzes
e
o meu apagar

Wednesday, May 20, 2015

Velhinhos brincando com as pelancas do outro

eu não quero ir pra lugar algum
lugar algum em que eu não encontre o meu velhinho
porque o amor que eu acredito é este
de quem um dia fica velhinho junto

porque um dia esta juventude toda vai acabar
porque um dia esta merda toda vai ficar pior

e o velhinho que estiver sozinho
vai estar muito mais fodido
que o velhinho
que estiver juntinho de outro velhinho
fazendo piada
jogando baralho
ou brincando com as pelancas do outro

merda de vida miserável da porra

Tuesday, May 19, 2015

Triste fim desolador

A tragédia que se incide sobre os desencontros.
E o drama que a gente faz disto para sobreviver.
É tudo invenção, eu sei.
Mas se não fosse invenção, nada seria.
Seria deste jeito.
Chato.
Miserável.

Você quer viver de que?
de comida e deveres só?

Onde foram parar os raios de pôr do sol?
Onde foram parar os gemidos inesperados?
Onde foram parar as festas surpresas?
Onde foram parar os abraços, as danças, os rolamentos no chão?

É tudo supérfluo até mesmo poesia?
os jogos de futebol
o algodão do japão
e o sushi?

Meu Deus,que horror!
E nós nem estamos em guerra?!
E nós nem passamos fome
E nem vivemos torturas e exílios...

Não como antes
não por debaixo dos panos

Meu Deus,e mesmo que estivéssemos
é sucumbindo assim que se luta?

você nunca mais vai me ver,amor.
e eu,que não aprendi a ser poeta é que vou sair perdendo.

Monday, May 18, 2015

ensinar que o melhor é não saber

Vou tentar escrever livremente, deixar fluir livremente o pensamento em que me encontro neste exato momento de fluidez constante, nets trabalho constante, onde tudo é trabalho , até mesmo respirar, viver.um trovão l´å fora que pode ser só uma cadeira arrastada, o teto daqui não parece que vai cair, mas, na brasilidade da peça o teto de Alice caía aos trôpegos, somos assim, aos trôpegos, aos tropeços, eu me separei de alguém pela 54a vez na minha vida, da primeira vez fui jogar capoeira como se aquilo não me afetasse e 21 anos depois ainda me dói. Mentira. Mentira o não afeto. Mentira viver sem afeto. Mentira viver para trabalhar. a gente quer afeto. Afeto de verdade. e a gente tem raiva, muita raiva de verdade, de quem não nos dá afeto quando a gente precisa de afeto, e neste caso somos todos crianças e porque cargas d'´ågua vem adultos metidos fingirem que afeto pouco importa, meu Deus do Céu, do cu do mundo, desça em mim a luz de Lúcifer que me trará a racionalidade necessária para ser um ser inteligente,capaz de trabalhar no mínimo 8 horas por dia sem pensar em querer um abraço. Eu quero aprender a viver só e não ter medo de arma. Vou ser polícia. Vou ser médica. Vou ser mergulhadora. Vou ser professora. vou estudar para ser professora. Vou ser professora. para fazer algum bem a humanidade. eu preferia compor músicas, escrever roteiros que chegassem a milhões e milhões de seres humanos. Falar como se fosse profeta, receber o dom da palavra e seguir por aí espalhando a boa nova, mas sem caretice, sem blefe, sem nem mesmo saber quem eu sou , me desprender do me corpo, desta prisão que segura o meu espírito e encarna todas as memórias que pouco importam para o mundo a não ser as compartilhadas, a não ser as compartilhadas? eu mergulho com você num lago azul profundo, vamos de mãos dadas até não termos mais fôlego, meus peitos crescem naturalmente, se enchem de leite e eu me doo, minha filha já não precisa mais de mim e nem eu de você. eu me vou embora daqui,porque não tem sentido mesmo este  viver. Eu queria ser otimista e brincalhona,mas não sou. sou assim.e agora tenho paciência em ser assim.vou me cavando e encontro pérolas que não pesquei.vou me cavando e encontro amores que não aceitei. vou me cavando e encontro tesouros perdidos de músicas que cantei com vento na cara. vou me cavando e encontro simplicidade plena e tenho vontade de ali ficar de me desdobrar nesta cava daqui para sempre até a cova. quero ser um ser simples, que canta com o vento na cara. que não sente frio. que tem coragem de dizer não te quero,porque não tem pressa,porque não sabe o que está por vir. Odeio esta falsa sabedoria dos 40, estes "já vivi, já sei como é" odeio isto. Gosto de me surpreender com as coisas. gosto de não saber. não nasci para saber. não posso ser professora, vou ensinar que não sei, que o melhor é não saber. que o melhor é não saber jamais. que o melhor é se deixar surpreender, saber a vez de entrar, não perder tampouco seu momento de protagonizar. então agora eu canto.
---Levanta a cabeça. Se olha. E se eu morrer amanhã?De susto,de bala ou  
vício. De bala,de bala, de bala...um medo tão grande da loucura  
humana,uma falta de discernimento total entre o que é dedução e o que  
é imaginação.Porque me imagino morrendo todos os dias.Tenho medo todos  
os dias.Hoje,isto é hoje.No passado eu não tinha medo de nada,só de  
dor de amor mesmo.E foi pela dor de amor que eu passei a ter medo de  
tudo.não.Foi trauma.É pânico.Martelam lá fora,martelam de  
madrugada.eles têm autorização da prefeitura. A cidade está em obras.  
A cidade está na moda.Eu não.Só com a minha filha.Ela me vê e me  
beija.Ela aprendeu a beijar.Ela diz “eu tô com medo”,porque ela  
aprendeu numa historinha que a aranha era solitária,porque todos  
tinham medo dela,mas no final da história a aranha convida todos para  
uma festa na teia dela e ninguém mais fica com medo dela.Eu  
busco,"escaravalho",rascunho meus medos,desafio meus medos e quase  
morro de susto todos os dias...Vício?Só o álcool,mas já passou.Bala,se  
vier na minha direção,espero não ficar apática vendo a morte chegar.Se  
chegar,que eu vá com óbolos para pagar ao caronte,para fazer a  
travessia...que a minha alma viva mais um pouco...
Voltando.Começar voltando.Eu,o meu quarto branco.Uma cama,uma  
escrivaninha.Nem computador eu tinha. Pouca gente tinha.Eu, a minha  
cama, a escrivaninha,a cadeira,o armário. Eu e as coisas que eu tinha  
para fazer. E a minha família e os meus amigos. Leveza. Eu, a terra  
batida sob meus pés, a parte de baixo do biquíni,só. Uma bicicleta.  
Vento. Sal na pele. Calor. Liberdade.Amor e liberdade.Só.Não voltar de  
hoje até o dia do meu nascimento,ou do meu concebimento,mas ir até lá  
e de lá chegar até aqui,para reconhecer,para me conhecer,para resgatar  
algo que foi perdido pelo caminho.Nasci.
Eu,a minha mão no tapete da sala,pegando no sofá para ficar em  
pé,abandonada na praia embaixo de uma toalha.Pele branca,cabelos  
brancos. Eu nasci de cabelos brancos,quase albina,crescendo num sol de  
sal,num sol esturricante,branca de sal na pele,caminhava por salinas  
de água quente e fedor,meu pé afundava.nadava numa lagoa escura e o  
fundo dava medo...tinha medo de tubarão,mas na lagoa só tinha mesmo  
tainha.Tainha é considerado um peixe barato,um peixe fácil,a barata do  
mar...eu comia barata,eu cresci comendo barata...a barata do  
mar...quando a gente ia passear,passava por dentro de uma favela,via  
senhoras lavando roupa,nenéns pelados brincando no esgoto,para chegar  
à propriedade do Roberto Marinho,onde tinha uma praia bonita.Lá a  
gente podia esquiar pelado e brincar de lagoa azul...eu me imaginava a  
Brooke Shields beijando aquele menino embaixo d’água...lá tinham  
conchas ainda grudadas no seu respectivo par,conchas rosas  
bebê,grandes conchas rosa bebê,ainda grudadas no seu respectivo  
par.Tudo parecia germinar dali,o magma terrestre parecia vir dali,toda  
a concepção do mundo parecia vir dali,o mundo parecia ser só  
aquilo...o sal,o vento,a água no corpo,a areia,as conchas,uma mata  
abundante e uns cabritos soltos...uns bodes...o peito ainda sem a  
parte de cima do biquíni,o pé grosso de quem anda muito descalço...e  
as gaivotas que vinham dormir a noite sob às árvores da ilha e  
transformavam o verde da copa num imenso tapete  
branco,suspenso,suspenso...não imaginava ladrão,não imaginava nem a  
morte,mesmo convivendo com cadáveres de peixes à beira d’água...aquilo  
parecia tão natural,que não era questionado...ocupar-se de ações,como  
passar os dedos sobre alguma superfície lisa ou saltitar com as mãos  
num muro áspero,pedalar para atingir pequenos objetivos,subir e descer  
o morro.subir a ladeira carregando a bicicleta,para descer no  
embalo,ter medo de cair e cair,ter medo de cair e não cair,viciar.
Parece que eu pulei umas partes...
Pensei em beijo. Na paixão pelo primo. No sangue do primo, na ajuda,  
em ficar sozinha com ele, no topo do morro, pegar o tecido que  
envolvia a espuma do guidon da bicicleta para estancar o sangue dele.  
A vontade de beijá-lo, a bulinação na bicicleta...E depois quando a  
gente se reencontrou embaixo do piano e transou.
E hoje?Importa o hoje?Hoje tudo é difícil.Acordar,planejar-se,vestir a  
roupa,o sapato,arrumar a casa,a cabeça,comer bem,manter o  

otimismo,precisar,pular da cama diariamente,trabalhar,trabalhar...