Wednesday, August 16, 2017

Cordilheira do Amor ou Nevou no meu Brasil

Nevou no meu Brasil”

Eu no meu cavalo, montada, seus olhos por todos os lados. Você me vê. Te vejo.
Ah, Cordilheira, quantas pessoas se perderam entre seus vales? Como se atravessa um acidentes destes? Como foi a tremida da Terra pra você nascer? 
É preciso subir e descer, subir e descer, 
perfurar desanuviar, saltar, esquiar, fluir em puro prana. Aceitar o vazio à frente, 
não saber o que falar, escrever, 
o que sentir, viver. 
Um cisco no olho, lacrimejo, 

um cílio caído no branco inteiro de um lírio enviado, recebido, enviado, 
entregue, lido. Ser amado. Ser armado. Corpo desalmado. 

Chegamos então à palavra que faltava. Onde ela fica nestas montanhas? A palavra, o verbo? Crer. Acreditar, acreditar na fantasia de um amor com fim. Assim como a vida 
com morte.

E a pedra crua marrom escura, a realidade acima de 0º, os campos onde árvores não cresceram sequer morreram, oxigênio seco e aviões cinzas, a bancada agrícola dominando o planalto, juízes democráticos apoiando populações ribeirinhas, as ditaduras na América Latina, o efeito Orloff em nós. Eu sou você amanhã.

Mas que meu amanhã sem você seja meu, meu só meu, Cordilheira, 
que seja resgatada a identidade brasileira,
e que eu não esteja perdida apesar da iridescência ofuscada… 
Que todas manhãs sejam paz brancas ingênuas abertas e leves…opacas… 
novamente, sempre novamente… 
e que eu esteja preparada para o frio… 
porque é preciso manter a pressão alta, 
sem autoritarismo, ditadura, vaidade, censura, casta ou machismo, 
sem qualquer ismo… 
tudo é uma questão de gosto ou 
liberdade

Vênus Vênus Vênus, ela, Venezuela, sua origem, Cordilheira, sua Deusa nascida da madrepérola, 
Afrodite oriunda da espuma do mar, 
Planeta ancião dos vulcões do mundo.
Terra de gritos vãos.
Vista-me de vermelho, dê-me coragem para o outro.
Quem é você? O que você pensa? Mas quem é você? E mais: quem sou eu?
Onde estamos? Quem somos nós? 
Vênus do amor, estrela d’alva no céu, me aponta. 
Importa? Pra quem?
É uma questão de mercado?

Tem o amor ao amor e tem também o medo do medo. 
Uns se deixam amar. Outros têm medo. 

Aceitar o vazio à frente, não saber o que falar, escrever, o que sentir, viver. 
Neve. Neblina. Branca, prateada.
Chegamos então à palavra que faltava.
A palavra, o verbo, onde ele fica nestas montanhas?
Crer, é preciso crer para se manter vivo. 
Mesmo que a paisagem seja triste ou simplesmente esta. 
Considerara esta cordilheira andina,
com pirâmides e patas de leão 
de pedra,
mas nada resta.
Fogo de palha.Nem sambaqui.
Arqueologia efêmera
assim como um tupi
niquim.
Nem analisa
nem lembra não,
isto é pra mim. 
Uma raposa na surdina,
não suporta museu.
Seres humanos inventam 
piscina,penicilina, 
preconceitos, trejeitos,
desfaçatez 
água com gás, 
creme inglês, 
guerra e paz, 
mas este morango, este morango, cordilheira, é milagre divino. 
E este vinho foi Baco quem fez
quando ainda menino 
as uvas espremeu. 

Loucura sagrada, sou tua noiva profana. 
Somos astronautas no seu foguete Challenger, 
preparados para explodir. 
O que mesmo não pode vir antes? Ácido ou Base? 
Geléias de jaboticaba feitas em casa 
elixir
colocado 
no cume 
do pão.
Frutas pretas que nascem 
coladas 
ao caule, 
bonita, gostosa, especial, tropical.
Mulheres projetam Asas Deltas sobre o céu daquele que parece o Dois Irmãos. 
Sobre este platô poderíamos botar uma televisão. 

Peixes Peixes Peixes no reino encantado 
de um sítio 
do picapau 
amarelo,amarelo, devagar, 
o sinal, o sinal, 
cautela cuidado. 
Balde de água fria. Frieza. 
Surfamos de long John, então? 
Não. Pra quem reinicia, mar revolto não

Nebulosa e branca está a cordilheira. 
De frestas profundas e nefastas é bela inatingível.
Desenrolo sobre a neve gélida que você se tornou. 
Sou avalanche. Eu sou avalanche. 
Rasgo em busca do espírito que me deixou. 
Soul. Alma zombando de um corpo que tem prazer no flow. 
Este sim está aqui, ficou. 
Digam ao povo que meu corpo ficou. 
Está aqui sobre este cavalo, 
tum tum tum tum. 
Digam ao povo que meu corpo ficou.

Regado a rum.

Nesta terra fértil onde tudo floresce,
voam cavalos alados.
Crianças em trenós, 
não estão armadas 
são almas sorrindo deslizantes
não traficam por aqui, vejam só, 
as crianças brincam,
se penduram, mergulham dos cipós!
O lixo está camuflado, nevou!
Nevou no Brasil!
Tudo pode aqui pode tudo aqui, acreditem! 
Até amor verdadeiro depois do gozo branco arrebatador
e as outras mortes são pequenas, 
pequenas mortes
que só dão brilho

à vida.






“Pintura que fala nº 1: “Cordilheira do Amor ou Nevou no meu Brasil”
Daniela Corrêa Fortes

Tinta Acrílica sobre Tela + Escrita + SoundPlayer/Fone 
100 cm X 80 cm

Sounddesign: 
Rodrigo Marçal

Interpretação: 
Olívia Torres