Monday, August 10, 2015

Maçã Envenenada disfarçada de "amor verdadeiro"

Eu de bicicleta na faculdade
Preocupação da galera era:
onde vamos comer hoje
ou
a pizza deste lugar não é tão boa
ou
todos lugares são do mesmo dono.

Você, meu amigo.
Retorno no tempo.
Nós todos na faculdade.
Nós todos jovens.

Você se despojou de objetos
roupas
valores
se distanciou
criou seu próprio duplo para criar
e está se superando como artista

Eu olho de longe ainda daqui
Não que eu não tenha me distanciado daquilo que éramos
ou me despojado dos valores
Aos poucos vou também fazendo o mesmo processo
Londres, Los Angeles, India... são aqui.
Eu tenho uma filha,
"tenho, enquanto for minha "
como disse Polônio à Hamlet.

E dela não posso me "despojar"
Jamais.
Então aterrada estou.
Mas viajando cada vez mais.

Sinto muita saudade de você.
Você virou um símbolo
um arquétipo onírico...
...olha só que engraçado...
você só aparece no meu subconsciente
ou como mito...

Não repetiremos aquele forró
Mas seu desprezo é estranho
Sua articulação direta
beira o desrespeito e a arrogância
E é exatamente destes pudores que desejo me desprender
para poder também dizer
tudo que penso
no fluxo do momento
com clareza e rapidez.

Sou sua fã.
Não mais.
Você pra mim é um espírito,
um ídolo,
nunca nos conhecemos,
nunca fomos jovens,
nunca dormi na sua cama,
nunca te esperei pra almoçar e levei bolo
nunca errei na pergunta do café preferido
nunca vi você sentado na minha poltrona desenhando
nunca tive uma poesia sua escrita no meu computador
nunca te levei até o elevador e te perguntei o porquê
nunca soube o dia do aniversário da sua mãe.
nunca te vi andando pro mar.
nunca conversamos.
nunca fomos à uma festa na Lapa.
nunca fomos ao Empório.

Na Terra do Nunca
onde eu estive esta noite
e você também estava,
através de mim,
Lá,
estávamos sim
juntos
e
felizes,
principalmente por sermos amigos.
Quanta falta eu sinto de vocês.

Lembrei que escrevia pro Bruno
Que propunha um mestrado pra ele.

Lembrei da voz do Chico.

Do canteiro onde vocês ficavam ao pé da escada.

Deve ter sido o livro do Michel Laub, "Maçã Envenenada",
ele escreve sobre uma ex-namorada
sobre os tempos que serviu o exército
sobre Londres
e sobre o Nirvana e a data que o Kurt Cobain se matou.

Maçã Envenenada.
Acho que comi algumas já na vida.

Agora talvez consiga resistir
e não aceitar.

Mesmo que venha acompanhada de um anel.
Ou disfarçada de " amor verdadeiro ".

Merda.