Friday, May 01, 2009

A morte

Era uma tarde ventosa de abril...A luz lá fora brilhava em tons semi-reluzentes e o mar batia em bravas ondas,ela acordou de um sonho em que sua amiga atriz lhe perguntava se tinha feito papel de ridícula naquela situação e seu amigo fotógrafo reparava que ela estava de pijama de flanela verde-água, tinha um mistério e um certo humor no sonho...aquelas pessoas...o que elas falavam... a dor de novo... aquela dor no lado inferior esquerdo da barriga,aquela dor de novo... estava ela doente?O médico avaliando sua situação naquele momento diria que estava tudo bem, que as coisas estavam melhorando... que seu intestino já tinha passado do trauma e que agora se recuperava...levantou-se da cama, depois de se espreguiçar tal qual os gatos, fez o mesmo número de respirações que correspondiam à sua idade, trinta e seis respirações naquele sábado pra sair da cama...hoje eu vou à praia, vou nadar no mar verde de Capri, mas, ali não era Capri e o vento não estava tão convidativo,foi ao banho,então...enquanto a água do choveiro escorria pelos seus cabelos e corpo, ela olhava para o chão...comprara um novo produto anti-freaze na loja em que os travestis, putas, cabelereiros e maquiadores...costumam investir, tinha que usá-lo, mas, o hábito a levara ao velho Elseve, da L'oreal, resolveu experimentar o produto de qualquer maneira, lavar o cabelo duas vezes aproveitar e massagear um pouco as idéias...os músculos retidos, os neurônios tristes, fatigados, lúgubres dentro do cérebro... fechou os olhos e deixou a água bater na nuca, jogou a cabeça pra trás e sentiu os pingos em suas pálpebras, com a ponta dos dedos abriu novamente os olhos e viu sob os seus pés os chumaços de seu próprio cabelo...seus pés e seu cabelo caído, fazendo redemoinhos espalhados em volta dela, seu cabelo caindo.... sua cabeça tão pequena, seu cabelo, seu pé... fechou os olhos e caiu pra trás num desmaio.Era insuportável a idéia de se estar viva morrendo aos poucos.