Eu, estrangeira de mim
Quem somos nós, brasileiros?
Ou melhor: Quem sou eu?
Somos estupefatos e reprimidos.
Índios ( dizimados e pouco conhecidos por nós mesmos ) nativos de um país com uma flora e uma fauna exuberantes; africanos ( marcados por uma sociedade escravocrata ) - dotados musicalmente de uma forma milagrosa de encarar a vida, compreendendo o sagrado também em bater os pés acordando os espíritos ancestrais; europeus - nos hábitos, nas técnicas, nas origens de um país colonizado; americanos - nas projeções; sincréticos, miscigenados nos mitos e ritos... Nos conhecemos?
E eu? Sou aquela que cresceu 4 meses por ano semi-nua, sem sapatos, brincando de taco na terra batida, coberta do sal da lagoa escaldante, capaz de pescar uma tainha com as mãos, sambando no pé, muito mais que a loira de maria chiquinha, tênis nike e blusa do mickey, comendo coxinha de galinha na tijuca.
Certa vez fui a uma mãe de santo : "você vê” - ela me falou. Recorto o mundo em cenas e sugiro narrativas na poesia do ordinário. Quem vive conta. Quem vê pinta. A realidade se transforma no meu trabalho. Confio no que vejo, mesmo que seja ilusão ou drama. O que destacar? O que não é comum neste excesso? Qual mistério a ser desvendado?
O que importa realmente aqui é ser feliz na urgência. A alegria surge do desespero em transformar o descaso social em algo vital.
É um dia a dia pesado, violento e também belo e frágil, nesta natureza abundante.