Monday, July 22, 2019

numa madrugada
de sinos que anunciam mortos
no pesadelo da criança

ela vem pra cama da mãe

numa estrada onde
nos sonhos a mãe dá carona a outros mortos

e então não dorme mais

uma decisão é tomada
o sol anuncia chegada
no peito uma facada

dor

pra onde ir a não ser longe daqui?

Thursday, July 04, 2019

Somos errantes

poetas contemporâneos

que trabalham o neocortex

para evitar mimimi nhamnhamnham te quero pra sempre de amor

brasileiro tá mais efêmero que nunca


Tuesday, July 02, 2019

Eu, estrangeira de mim

Quem somos nós, brasileiros?
Ou melhor: Quem sou eu?
Somos estupefatos e reprimidos.
Índios ( dizimados e pouco conhecidos por nós mesmos ) nativos de um país com uma flora e uma fauna exuberantes; africanos  ( marcados por uma sociedade escravocrata ) - dotados musicalmente de uma forma milagrosa de encarar a vida, compreendendo o sagrado também em bater os pés acordando os espíritos ancestrais; europeus - nos hábitos, nas técnicas, nas origens de um país colonizado; americanos - nas projeções; sincréticos, miscigenados nos mitos e ritos... Nos conhecemos?
E eu? Sou aquela que cresceu 4 meses por ano semi-nua, sem sapatos, brincando de taco na terra batida, coberta do sal da lagoa escaldante, capaz de pescar uma tainha com as mãos, sambando no pé, muito mais que a loira de maria chiquinha, tênis nike e blusa do mickey, comendo coxinha de galinha na tijuca.
Certa vez fui a uma mãe de santo : "você vê” - ela me falou. Recorto o mundo em cenas e sugiro narrativas na poesia do ordinário. Quem vive conta. Quem vê pinta. A realidade se transforma no meu trabalho. Confio no que vejo, mesmo que seja ilusão ou drama. O que destacar? O que não é comum neste excesso? Qual mistério a ser desvendado? 
O que importa realmente aqui é ser feliz na urgência. A alegria surge do desespero em transformar o descaso social em algo vital.
É um dia a dia pesado, violento e também belo e frágil, nesta natureza abundante.