BEL - Projeto que não deu certo. 
 Ainda existe um lugar onde se queira dormir, abraçar 
 alguém? 
 Afeta nossa capacidade de amar.
 e dizemos amém.
 Afeta nossa necessidade de amar.
 e não dizemos mais
 amém.
BERNARDO - Os travesseiros trincheiras 
  nos defendem do descanso
  Quem quer algo além? 
  A poeira fede lá fora 
  e a gente aqui com medo? 
  Não cabe.
BEL -  Cabe. 
 Almas dominadas pela higienização das relações! 
 Te falta tempo? Pra mim sobra! 
 Sobra tempo 
 Time is no money e ainda quero mais! 
 Não estou desempregada , escolho afeto, desarraigada.
BERNARDO - Na casa da minha mãe tenho afeto.
BEL - Que sorte, achei que era só teto.
BERNARDO - Se cuida!
BEL - Odeio isto, me atinge, me rói, me deixa muda.
BERNARDO - É sincero.
BEL - Mas não o que espero.
BERNARDO - Não sou eu quem vai salvar sua primeira infância perdida.
BEL - Desespero-me com sua ida. Cessar sonhar.
BERNARDO - Desta preocupação consegui me livrar. Seu peso. Quanto penar.
BEL -  Egoísta. 
BERNARDO - Privilégio ser. 
  Não procuro nos outros solução 
  tenho poder.
  Você manipula
  mas não a mim.
BEL - Passar bem. Seu nome é repressão.
 Vai lá, circula, faz pirlimpimpim.
BERNARDO - Seu nome é agressão.
  Fora de mim!
BEL -  Você me nega a mão, 
 e sou eu a agressão? 
 Você se fecha
 e sou eu sua apreensão?
 Os olhos sensíveis
 enxergam mera ambição. 
 Pode sair daqui enfim 
 desta peça 
 da minha vida.
 de mim.
BERNARDO - Volto.
BEL -  Alguns se transformam, outros passam atávicos. 
 Agradeço por me acordar do sonho alienado. 
 Considerava possível filhos de amor, 
 mas isto pra você é dor.
BERNARDO - puro torpor  
BEL -  Não morrerei às traças. 
 Não serei comida pelos corvos 
 num mini apartamento em Paris. 
 O despertador não vai tocar às 4 da manhã por 1 semana  
 A vizinha cansada não irá desconfiar do meu sono infinito 
 vindo do respiradouro do prédio em Copacabana.
BERNARDO - Não morro nunca. Sou ficção.
BEL - Desta água não mais beberei, irmão.
 
