A chaleira canta
o vento da minha infância.
Será que o Beto já dormiu
ou toca um Beatles no seu violão?
Já olhei a lua
sem rede pra balançar
do carro na rua
Aqui vou trabalhar
Apagar o chá
Me olhar nua
parar de sonhar.
A vida real conta
que o vento do entardecer
entrou na chaleira
e só toca mesmo
pra me lembrar
que o Pablo morreu de câncer
e que o gás pode acabar,
se eu não pagar a conta.
Tonta.
Sou a moça que não soube ser amada.
Precisou morrer de amores
para perceber outras dores.
Passou a se brotar flores
para suportar os horrores.
(...às crianças do vasto mundo,
que elas saibam ser amadas)
Foi tanto te amo te amo te amo
que quando o amor apareceu de fato
teve que sambar escondida na moita
camuflada no mato.
Foda-se o que não está em mim.
Fodam-se as conquistas do império.
O que sou eu afinal?
Carne de negociação?
Pra que me colocaram aqui afinal?
hahaha
a criatura pensa
e
antes tarde que nunca
aprende
e se permite
ser amada
sabe por quem?
por quem está mais no interior do interior
dentro fundo
com sotaque e afeto
e coração bom.
cadeira de praia
tempo em vão.
por aqui acabou o teatrão
queremos gaivotas
goiabadas
tangerinas
roleta gamão tapão.
Poemas de Nina Dadi ou Dani Dani ou Dani Fortes ou DCF ou Daniela Corrêa Fortes
Tuesday, August 08, 2017
sem eira nem beira sob a presente amendoeira
com você reconheci meu eu
você se foi e me roubou de mim
minha relação com a natureza
passou a ser sobre você
minhas árvores são suas
minhas praias seu sol
minhas ondas sua inaptidão para o surf
E eu?
Cadê eu?
Cadê meus pés queimando?
Cadê minhas costas tostando? Meu cabelo curto, aquelas mãos e as trilhas?
Cadê o cheiro destas folhas úmidas no chão?
Cadê minha filha dançando ópera com a caixa de som?
Nesta praia cresci eu.
Sob estas amendoeiras estava eu.
Elas deram sombra à mim.
Eu era eu?
Chapéus de Sol não vou chamar assim
amendoeiras são.
E da mesma maneira que não encontro fim
barreiras crio para a memória do grão
de areia
que esperneia
em vão
diante do mar revolto
torto corpo torto
remexido
pelo trovão
pela tempestade
por você que se diz são
fazendo de mim só coração
que mente
até pra si
este tempo ido
fingindo para este corpo vivido
à própria idade
que o presente
ainda te pertence.
Devolva-me a mim
ou permita que eu recupere
seu simples impensado e sem teimosia, vaidade ou machismo
sim
você se foi e me roubou de mim
minha relação com a natureza
passou a ser sobre você
minhas árvores são suas
minhas praias seu sol
minhas ondas sua inaptidão para o surf
E eu?
Cadê eu?
Cadê meus pés queimando?
Cadê minhas costas tostando? Meu cabelo curto, aquelas mãos e as trilhas?
Cadê o cheiro destas folhas úmidas no chão?
Cadê minha filha dançando ópera com a caixa de som?
Nesta praia cresci eu.
Sob estas amendoeiras estava eu.
Elas deram sombra à mim.
Eu era eu?
Chapéus de Sol não vou chamar assim
amendoeiras são.
E da mesma maneira que não encontro fim
barreiras crio para a memória do grão
de areia
que esperneia
em vão
diante do mar revolto
torto corpo torto
remexido
pelo trovão
pela tempestade
por você que se diz são
fazendo de mim só coração
que mente
até pra si
este tempo ido
fingindo para este corpo vivido
à própria idade
que o presente
ainda te pertence.
Devolva-me a mim
ou permita que eu recupere
seu simples impensado e sem teimosia, vaidade ou machismo
sim
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