Tuesday, August 08, 2017

sem eira nem beira sob a presente amendoeira

com você reconheci meu eu
você se foi e me roubou de mim

minha relação com a natureza
passou a ser sobre você
minhas árvores são suas
minhas praias seu sol
minhas ondas sua inaptidão para o surf

E eu?
Cadê eu?
Cadê meus pés queimando?
Cadê minhas costas tostando? Meu cabelo curto, aquelas mãos e as trilhas?
Cadê o cheiro destas folhas úmidas no chão?
Cadê minha filha dançando ópera com a caixa de som?

Nesta praia cresci eu.
Sob estas amendoeiras estava eu.
Elas deram sombra à mim.

Eu era eu?

Chapéus de Sol não vou chamar assim
amendoeiras são.
E da mesma maneira que não encontro fim
barreiras crio para a memória do grão
de areia
que esperneia
em vão
diante do mar revolto
torto corpo torto
remexido
pelo trovão
pela tempestade
por você que se diz são
fazendo de mim só coração
que mente
até pra si
este tempo ido
fingindo para este corpo vivido
à própria idade
que o presente
ainda te pertence.
Devolva-me a mim
ou permita que eu recupere
seu simples impensado e sem teimosia, vaidade ou machismo
sim

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